Fonte: Gazeta Online
TERÇA-FEIRA, 15 DE JULHO DE 2014
Patrik Camporez |
pmacao@redegazeta.com.br
Fotos: Edson Chagas-GZ
Cerca de 145 mil descendentes germânicos vivem no Estado do Espírito
Santo.
A população capixaba é composta por aproximadamente 145 mil pomeranos, a
maior parte deles concentrada em comunidades rurais de 13 municípios do Estado,
onde vivem do cultivo da terra.
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| Alunos
da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Fazenda Emílio Schroeder reivindicam o ensino da língua pomerana dentro da sala de aula. |
Para manter preservadas suas tradições e costumes, os descendentes
germânicos resolveram se unir para, através de um ciclo de reuniões que
acontece em todo o Estado, montar uma pauta com diversas reivindicações.
E a principal delas diz respeito a falta de políticas públicas voltadas
ao campo, fato que tem levado cerca de 50 % dos jovens dessas comunidades a
deixarem suas casas para trabalhar ou estudar em outras cidades, explica o
pesquisador Irineu Foerste, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Somado a isto, a ausência de investimentos públicos na agricultura
familiar tem dificultado a permanência das famílias pomeranas no campo, alerta
o pesquisador, que ainda destaca: “A língua pomerana praticamente desapareceu
na Alemanha e na Europa, mas é falada, aqui no Estado, como era falada, lá, há
150 anos. Esse é um capital cultural muito grande, que a gente precisa dar
visibilidade”, aponta Foerste, que também faz parte da Comissão Nacional dos
Povos e Comunidades Tradicionais.
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| Municípios capixabas com maior concentração de pomerano (clique na imagem para ampliar) - Arte: Genildo |
A estudante Raquela Reetz mora em Santa Maria de Jetibá, tem 15 anos e
só foi aprender português aos seis, ao ingressar na escola, já que a única
língua falada pelos seus pais é a pomerana.
Por abrigar a maior concentração de descendentes no Estado, o município
da Região Serrana foi escolhido para sediar a primeira reunião do ciclo de
encontros, e Raquela aproveitou a oportunidade para fazer sua reivindicação.
“Na minha escola estudo inglês, mas não estudo a língua que aprendi com os meus
pais. Não tem como manter nossa tradição sem preservar nossa língua”, cobra.
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| Moradores
declaram amor pelos costumes locais: em Santa Maria de Jetibá, onde 80 % da população é descendente germânica, moradores têm orgulho de suas origens. |
A lista de reivindicações inclui ainda a cobrança por investimentos na
agricultura familiar e melhorias na educação e saúde no campo. Para a pedagoga
Vanilda Haese Dettmann, todas essas demandas têm, em comum, o objetivo de
fortalecer a permanência do povo pomerano em seu território. “Estamos nos
organizando melhor para que as políticas públicas sejam alcançadas. O objetivo
é fortalecer a organização dessa cultura”, afirma Vanilda, que é uma das
idealizadoras do movimento.
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Casas
no interior mantêm arquitetura tradicional: de passagem pela comunidade Ilha Berger, uma linda casa chamou a atenção da reportagem.Nela, mora Dona Maria.
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No dia 10 de setembro, vai acontecer um encontro estadual, onde será
elaborada uma pauta contendo as principais reivindicações feitas em cada
região. Posteriormente, o documento será levado à Brasília. Ao todo, vivem no
Brasil cerca de 300 mil pomeranos, metade deles em solo capixaba.
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| Algumas
escolas já contam com o ensino pomerano: Gabriel Kuster, 10 anos, aprende o pomerano em sala de aula, na comunidade São João do Garrafão. O avô comemora |
Origem
Os pomeranos são oriundos da antiga região da Pomerânia que, após a
Segunda Guerra Mundial, deixou de existir no mapa europeu. Grandes
desbravadores das terras capixabas, estabeleceram-se inicialmente na região das
montanhas e, posteriormente, no final do século XIX e início do século XX,
migraram também para o Norte do Estado, em direção ao Vale do Rio Doce.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA:




