POR ANDRESSA RODRIGUES
Militante do
MTST considera que o momento é de intensificação das lutas e que as reformas
importantes não vão acontecer sem grande pressão popular
São Paulo – O coordenador
nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, se
disse aliviado com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT), a quem o
movimento apoiou por considerar que uma vitória do candidato derrotado Aécio
Neves (PSDB) seria “desastrosa” para os trabalhadores. No entanto, ressalta que
o movimento agora volta às ruas, pois “esse é o momento das grandes lutas para
avançar no conjunto de reformas populares, que hoje estão bloqueadas no
Brasil”.
Boulos disse não ter ilusões
quanto à atuação do governo para avançar em processos como a reforma política e
a reforma urbana, pois as alianças no Congresso Nacional continuam sendo as
mesmas. “Para avançar no conjunto das reformas vai ser necessário um amplo
processo de pressão e mobilização de rua e o MTST está se preparando para fazer
parte disso”, disse, ampliando mais uma vez o escopo de atuação do movimento,
agora com a reforma política.
Para ele, é uma ilusão acreditar
que a mudança do sistema político-partidário, que a presidenta Dilma mencionou
em seu discurso na noite de ontem (26), após a divulgação do resultado da
eleição, como uma das prioridades de seu segundo mandato, vai se dar por um
consenso com o PMDB ou PSDB. “Nem ela acredita nisso. Seria conto de fadas”,
ironizou.
Além disso, embora considere
importante e definitiva a atuação de um grande número de movimentos com causas
distintas em prol de Dilma no segundo turno da eleição, Boulos acha difícil uma
guinada voluntária do PT à esquerda.
“Ao mesmo tempo em que eles têm
uma fatura mais forte com os movimentos, eles também têm uma fatura a pagar
para os empresários e para o agronegócio que bancaram a campanha deles. E toda
a base aliada no Congresso Nacional com quem eles vão recompor. Qualquer
movimento nesse sentido vai depender de um amplo processo de mobilização
popular.”
Para o militante, a polarização
ocorrida no segundo turno da eleição não é negativa, embora não negue os
“efeitos de barbárie”, como o preconceito destilado contra os nordestinos nas
redes sociais. Ele avalia, porém, que não adianta a presidenta – e também o
vice-presidente Michel Temer – discursar que este é um momento de unidade
nacional, pois a divisão do país é um fato.
“Essa mobilização não se desmonta
por um discurso. Ela está dada por razões objetivas, por um esgotamento do
modelo econômico e de conciliação de classes que foram estes 12 anos. A elite
esteve na rua, pró-Aécio, mas também houve mobilização popular. E que não vai
acabar agora porque a Dilma se elegeu”, defendeu.
Boulos ainda destacou que o
movimento não fez nenhum acordo com o governo Dilma em troca do apoio. “Quando
resolvemos fazer o apoio crítico no segundo turno, isso não foi condicionado a
qualquer apoio político. Foi pelo entendimento que o movimento tinha, e tem,
dos riscos que estavam colocados. Isso em nenhum momento ofuscou as
reivindicações e as críticas que o movimento tinha e continuará tendo ao
governo do PT”, explicou.
Na pauta mais específica da
moradia, o movimento vai defender transformações profundas no programa federal
Minha Casa, Minha Vida, para valorizar a gestão direta por organizações
populares – chamada modalidade entidades – e localização mais central dos
empreendimentos, além da pauta sobre regulamentação do reajuste dos aluguéis.
“Esse é um desafio para o próximo período”, concluiu Boulos.
Sem terra
Em nota o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) manifestou similar à do MTST, destacando o
esgotamento do modelo de crescimento em que "trabalhadores e patrões
ganham" e a composição mais conservadora do Congresso Nacional a partir de
2015. "O próximo governo terá de escolher quem vai sair perdendo, e nós
precisamos lutar para que não sejam os trabalhadores."
O movimento avalia como pontuais
as medidas da gestão petista em favor das famílias mais pobres da zona rural
nos últimos 12 anos e que a reforma agrária dificilmente será proposta pelo
governo ou pelo Congresso, mas sim por pressão dos movimentos sociais. "O
que o PT fez não foi reforma agrária, foi política de assentamento", diz
outro trecho do documento.
REFÊRENCIA

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